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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

QUAL É O REQUISITO FUNDAMENTAL PARA SER UM VERDADEIRO AUDITOR FISCAL DO TRABALHO?


Vamos contar uma história para responder a pergunta do 
título. Era uma vez, há muito tempo, uma inspetora do 
trabalho inglesa, que escreveu o seguinte texto, a respeito de 
uma fiscalização realizada por ela em 1903:
“Um excitante domingo, que eu passei, continua vivo em 
minha memória. Uma denúncia anônima, que eu tinha 
recebido, reportava que mulheres – empregadas de uma bem 
conhecida fábrica – estariam trabalhando no domingo.
Eu visitei a fábrica às 11 horas, desse domingo, mas tive 
que esperar, antes da porta da frente ser aberta.
Vistoriando as salas de trabalho eu as encontrei vazias, 
mas as janelas estavam abertas e as coberturas, colocadas 
sobre o trabalho, davam a impressão que tinha sido postas ali 
com açodamento.
Numa visita prévia eu tinha conseguido os nomes e 
endereços de algumas trabalhadoras. Então eu chamei um 
hansom cab (fiacre) e me dirigi a Brixton e Balham – os 
distritos dormitórios para os trabalhadores do West End – 
somente para ouvir, em seus lares, que elas estavam 
trabalhando.
Então me dirigi de volta à fábrica, esperando que desta vez 
eu obteria uma entrada imediata, pois uma segunda visita de 
um inspetor não seria muito esperada. 
Entretanto eu encontrei a mesma situação. As salas de 
trabalho estavam outra vez vazias.
Ao anoitecer eu retornei a Brixton e Balham e encontrei as 
trabalhadoras em casa e elas me contaram, com excitação, 
como elas tinham sido empurradas para dentro de um 
banheiro da casa do empregador – que ficava anexa à fábrica 
– em cada uma das minhas visitas.
Assim, eu tive o conforto de ouvir que minhas atividades 
haviam desorganizado completamente o dia de trabalho e as 
declarações resultaram num bem sucedido processo”.
(MARTINDELE H., 1944, From one generation to another, 
pg 75, George Allen and Unwin, London, citado em Women of 
Courage,  SUSAN YEANDLE, Health & Safety Executive, 
1993, pg 14 )
Agora cumpre analisar a fiscalização realizada por essa 
notável inspetora do trabalho.  
Ela se dirigiu à fábrica uma primeira vez, coletou nomes e 
endereços das empregadas, examinando documentação.
Dirigiu-se à fábrica uma segunda vez, no domingo, não se 
contentando com as anotações de “ponto”. Queria dar o 
flagrante.  
Examinou com atenção o ambiente de trabalho, viu 
detalhes como: “janelas abertas e coberturas colocadas às 
pressas”. (Olhos de inspetor).
Pegou um “hansom cab”, ou seja, um fiacre, ou cabriolé, em 
que o cocheiro viaja atrás do passageiro. Era 1903, os taxis 
eram puxados a cavalo. Foi do West End à Brixton e Balham, 
distritos de Londres, onde moravam as trabalhadoras. A 
distância mínima do deslocamento é, hoje, sete milhas e meia. 
Leva-se de automóvel cerca de vinte e seis minutos. Em 
cabriolé, mesmo sem trânsito intenso, deveria demorar quanto?
Entrevistou as famílias de mais de uma trabalhadora. Voltou.
Foi na fábrica uma terceira vez, examinou o ambiente de 
trabalho novamente.

À noite – na Londres do início do século passado - voltou à 
residência das empregadas e entrevistou várias. 
Voltou para sua residência. Por baixo, cinco ou seis horas, 
só de deslocamentos.  Posteriormente fez relatórios e 
processou a empresa.
A resposta à pergunta do título está contida nesta história. 
Persistência, coragem, entusiasmo, dedicação, ou 
resumindo, amor pelo que se faz, é o requisito fundamental 
para ser um verdadeiro Auditor Fiscal do Trabalho. 
Os outros requisitos, como competência técnica, 
inteligência, conhecimento especializado e geral, etc, nada 
são sem o primeiro requisito. Não existirá nada que supere a 
dedicação. Com esta qualidade mesmo as deficiências 
técnicas serão superadas. 
Um inspetor do trabalho que, simplesmente, cumpre 
pontuações necessárias para atingir metas fixadas pelo 
Ministério não resolve nada. Pior, não se realiza como 
pessoa.
Nestes tempos de “banalização da injustiça social”, como 
refere CHRISTOPHE DEJOURS, em que se nega o 
sofrimento, se institui a mentira, se racionaliza e banaliza o 
mal, nos centros de trabalho, e se propaga o desemprego, o 
inspetor do trabalho tem uma tarefa hercúlea pela frente e a 
primeira tarefa é não deixar que essa 
Safety Executive, da Inglaterra, 
publicou em 1993, o livro:” Women of Courage “ ( Mulheres de 
Coragem )  que narra a história das primeiras mulheres 
inspetoras do trabalho. Não existe tradução para português. 
2. CHRISTOPHE DEJOURS, é psiquiatra e psicanalista 
francês. Diretor do Laboratório de Psicologia do Trabalho da 
França. Seu livro: A banalização da injustiça social “, tradução 
para o português, encontra-se na sétima edição da Editora 
Fundação Getúlio Vargas. A Cortez Editora e a Oboré 
publicaram outro livro do autor : “ A Loucura do Trabalho “, um 
estudo sobre a psicopatologia do trabalho, que está na quinta 
edição e 13ª reimpressão. 
Nota de Redação – A presente reflexão foi distribuída 
pelo colega Luiz Scienza, AFT/RS, tendo como anexo um 
artigo do colega José Cláudio Gomes, também do Rio 
Grande do Sul.
banalização do mal lhe 
atinja. Deve sentir fúria quando seu senso de justiça é 
injuriado, deve trabalhar com persistência, entusiasmo e 
dedicação, sabendo que o seu trabalho é fundamental aos 
trabalhadores e, portanto, ao país.
Voltando à história inicial, a inspetora, nas suas próprias 
palavras, foi gratificada pelo trabalho bem cumprido. Ao fim de 
sua vida profissional registrou suas atividades para os 
colegas que viriam. O título de um de seus livros é justamente: 
“De uma geração a outra”. Certamente, ao cerrar os seus 
olhos para sempestava plenamente realizada. Pode existir 
coisa melhor?  

Fonte: Sindicato Paulista dos Auditores Fiscais do Trabalho
Nota de Redação – A presente reflexão foi distribuída 
pelo colega Luiz Scienza, AFT/RS, tendo como anexo um 
artigo do colega José Cláudio Gomes, também do Rio 
Grande do Sul.


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